
De alguns anos para cá, tenho pregado e palestrado muito. Venho compartilhando o evangelho em igrejas, congressos, centros de convenções e, este ano, falarei até mesmo no evento de um presídio. Sempre que vou a esses lugares ocorre algo curioso: invariavelmente, eu sou chamado de “pastor”, embora eu não seja pastor e apesar de eu sempre dizer de púlpito que não sou pastor. Esse fato me levou a uma reflexão, que gostaria de compartilhar com você. Nos últimos dois anos ministrei em cultos e eventos promovidos por igrejas como presbiteriana, batista, metodista, anglicana, episcopal, pentecostais, neopentecostais; congressos interdenominacionais: eventos sem vínculos com igrejas… enfim, para todo tipo de pessoas, de linhas doutrinárias e teológicas distintas, que frequentam ambientes com sistemas de regência diversos. E, em todos esses lugares, as pessoas me chamam de “pastor”. Curioso.
Acredite,
eu me esforço para deixar claro que não sou pastor, isto é, que não fui
ordenado para o cargo de pastor por uma organização religiosa. Sinto-me
desonesto se não explico que não sou ordenado; se não falo nada parece
que estou pecando por apropriação indébita. Geralmente, assim que começo
a ministração, eu me apresento e, imediatamente, ressalto que não sou
pastor. Mas, logo que a preleção acaba e desço da plataforma para
conversar com os presentes, começo a ouvir: “Pastor Maurício…”. Já vivi
até mesmo episódios engraçados, como certa vez em que uma senhora me
telefonou a fim de me convidar para pregar em determinado lugar, e o
diálogo foi assim:
– Alô, é o pastor Mauricio?
– Alô. Sim, aqui é o Mauricio, mas eu não sou pastor.
– Ah, desculpe, pastor.
Não tem jeito.
Basta eu falar em um microfone que fatalmente serei “ordenado por
aclamação”, como costumo brincar. A pergunta que comecei a me fazer é:
por quê? A resposta pode parecer óbvia, mas, para mim, ela é reveladora
sobre algo que temos feito errado. Jesus
chamou todos nós para compartilhar o evangelho. Todos. Sem exceção. A
partir do momento em que você é alcançado pela graça, ingressa no grupo
dos que são convocados para compartilhar com toda criatura as boas-novas
de Cristo. Então, é natural que um cristão pressuponha que todos os
seus irmãos tenham o hábito de pregar o evangelho. Eu pressuponho isso
sobre meus irmãos. Se você é crente em Jesus, automaticamente isso me
faz pensar que é um proclamador das boas-novas. Mas a realidade é que a
esmagadora maioria dos cristãos que conheço não está habituada a
compartilhar o evangelho.
Criou-se em uma
enorme parcela da igreja a ideia de que pregação é algo para indivíduos
ordenados para o ministério pastoral por uma organização eclesiástica.
Ou seja: pastores. Em especial em determinadas denominações, a pregação
virou exclusividade dos pastores. Portanto, é natural para quem vive uma
situação assim que, ao me ver pregando em um púlpito ou uma plataforma,
imediatamente pressuponha que sou alguém que ocupa o cargo de “pastor
de igreja”. E isso me preocupa.
“E
ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros
para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao
aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço…” (Ef 4.11-12).
Veja que há uma diferenciação explícita entre pastor, evangelista e
mestre. Portanto, quando subo a um púlpito ou uma plataforma para falar a
um grupo de pessoas sobre o evangelho, posso estar exercendo um chamado
de mestre. Ou de evangelista. Não necessariamente o de pastor. Mais do
que isso, posso estar simplesmente cumprindo, como filho de Deus, aquilo
que Jesus mandou que eu e você fizéssemos: “Ide,
portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do
Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as
coisas que vos tenho ordenado…” (Mt 28.19-20); “Ide por todo o mundo e
pregai o evangelho a toda criatura” (Mc 16.15).
Claro que é de
se esperar que aqueles que foram chamados a exercer o ministério
pastoral em cargos institucionalmente estabelecidos tenham um
conhecimento teológico mais aprofundado que as demais pessoas, pelo fato
de terem dedicado muito tempo ao estudo das coisas de Deus e de viverem
no dia a dia os conflitos e as dores do rebanho. A experiência e o
conhecimento que acumulam os capacitariam a ministrar com muito mais
propriedade e, por isso, é indispensável que quem prega se prepare e
saiba o que está falando. Não dá para se pregar sobre o que não se sabe,
evidentemente. Mas não necessariamente é uma verdade universal que só
os tais devem exercer a atividade da proclamação, pois é fato que há
muitos e muitos cristãos que não são pastores ordenados por uma igreja
mas estudaram teologia, leem avidamente sobre as coisas de Deus, têm
profundo conhecimento bíblico, exercem dons de socorro e misericórdia e
são plenamente capazes de pregar o evangelho, amparar pessoas, oferecer
conselhos, interceder.

Confesso: ser
chamado de pastor só porque prego em um microfone me incomoda. Não pelo
fato de ser chamado de pastor, de maneira alguma, isso é uma honra.
Acredito e valorizo profundamente o ministério pastoral. Sou eternamente
grato a pastores que cuidaram e cuidam de minha vida. Quem me conhece
sabe quanto valorizo o belo ministério daqueles que dedicam a vida a
pastorear pessoas com seriedade, temor, um coração abnegado e amor por
seres humanos. De modo algum este minha reflexão deve ser usada como uma
condenação à ordenação pastoral, pois não é: acredito nela. Mas fico
incomodado por ver como está introjetada na mente de muitas e muitas
pessoas a ideia de que só está capacitado a proclamar as boas-novas de
Cristo quem ocupa o cargo institucional de pastor.
É
preciso que fique claro que todos fomos chamados para proclamar as
boas-novas. Os dons são distribuídos a quem Deus quer. Os chamados “dons
ministeriais” inclusive. Uns foram chamados e capacitados por Deus para
ensinar, outros para pastorear. Mas todos os cristãos têm o “ide” a
cumprir. Isso torna perfeitamente aceitável – e desejável – que qualquer
pessoa com conhecimento pregue ou ensine sobre o evangelho, num
púlpito, numa plataforma, numa sala de aula, num presídio, num
cemitério, no meio da rua, numa boate, no ônibus, nos confins da terra. E
isso serve para você. Se
você não se sente suficientemente preparado para pregar, saiba que a
solução para a sua carência de conhecimento não é deixar de fazer o que
tem de fazer, mas, sim, se capacitar para fazer.
Toda
essa reflexão nos conduz a alguns questionamentos: você tem
proclamado o evangelho? Tem compartilhado as boas-novas de Cristo? Tem
ensinado sobre amor, perdão, paz, confiança, fé? Sua boca tem sido canal
de evangelização, edificação, bênção, pacificação? Peço a Deus que
deixemos de crer que pregação é uma atribuição exclusiva de quem ocupa
um cargo, pois pastorear não significa pregar e pregar não
significa pastorear. Que comecemos a trazer para nós essa
responsabilidade, para somarmos esforços com os pastores ordenados – de
quem somos aliados e não competidores e, muito menos, substitutos. Se
isso acontecer, creio que a mentalidade de que só pastores ocupam
púlpitos para falar de Cristo desaparecerá. É uma utopia, eu sei. Mas
confesso que este é o meu sonho: que, ao descer da plataforma após
pregar o evangelho, eu seja chamado, simplesmente, imediatamente e
sempre, de “irmão”. Pois, no dia em que isso acontecer, será sinal de
que os cristãos passaram a perceber que, em essência, tudo de que alguém
precisa para ir por todo o mundo e pregar o evangelho a toda criatura é
ser um filho de Deus.
Você é um filho de Deus? Então, prepare-se: essa tarefa é sua. O que está esperando?
Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício Zágari < facebook.com/mauriciozagariescritor >
Blog apenas
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